Comunicação falha entre médicos causa atrasos fatais em procedimentos
Estudo com 792 doentes mostrou que taxa de mortalidade cai quando equipes fazem mais troca de informações
A falta de comunicação entre médicos de UTI pode aumentar a taxa de mortalidade, revela um estudo feito por grupo ligado ao Hospital Moinhos de Vento e à Universidade Federal de Ciências da Saúde, de Porto Alegre.
De tão grave, o problema é uma das prioridades da campanha lançada esta semana pela Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) com o objetivo de aumentar a segurança nas unidades de terapia intensiva.
"Certamente, a falta de comunicação é a primeira causa de eventos adversos em UTIs", diz Álvaro Réa-Neto, coordenador da campanha da entidade, que prevê reuniões em várias capitais. Um dos itens da cartilha é dedicado a essa questão.
O ambiente lotado de pacientes críticos, a correria dos profissionais e a falta de rotinas estabelecidas para disseminar as informações criam um terreno fértil para a comunicação truncada.
FALTA REUNIÃO
Entre os problemas mais citados estão a falta de encontros entre todos os profissionais envolvidos, os atrasos em procedimentos como o início de uma terapia com antibióticos, a retirada da ventilação mecânica e técnicas de prevenção da trombose venosa profunda.
Os especialistas notam também diferentes percepções do que é importante relatar, dificuldades que os membros mais jovens têm de questionar os mais velhos e visões diferentes de condutas dentro da equipe.
"Um dos grandes problemas é a comunicação entre diferentes profissionais. Nem sempre o que um transmite é o mesmo que é ouvido pelo outro", diz o médico especialista em medicina intensiva Cassiano Teixeira, um dos líderes do trabalho.
"A rotina ideal é aquela em que todos os participantes do caso conseguem se reunir em algum momento do dia para discutir o caso." Mas isso nem sempre acontece.
Para chegar ao resultado, os pesquisadores gaúchos acompanharam 792 pacientes durante um ano e meio. Eles foram divididos em três grupos, conforme a frequência de comunicação entre os médicos-assistentes -que comandam o caso, mas não ficam o tempo todo na UTI- e os médicos rotineiros da unidade, responsáveis pelas complicações agudas.
A taxa de mortalidade foi de 26% no grupo que se comunicava raramente -que incluiu quase 10% dos pacientes. Naqueles em que as conversas eram quase diárias, a taxa ficou em 13%.
"O importante não é achar culpados, mas encontrar processos que levam a repetições de erros. Se não cuidar do processo, não adianta trocar pessoas", diz Réa-Neto.
"É uma questão de hábito, de boa vontade, mas muitas equipes ainda não desenvolveram esse hábito", observa Maria Ângela Gonçalves Paschoal, enfermeira-chefe da UTI do Hospital Santa Isabel e da Santa Casa de São Paulo.
Unidades com dez leitos têm, em média, dois médicos e dois enfermeiros por turno, e oito técnicos de enfermagem e dois fisioterapeutas.
Também circulam por ali médicos de outras especialidades, fonoaudiólogos, psicólogos e nutricionistas. Todos se revezam em turnos de quatro ou seis horas e plantões noturnos de doze horas.
Fonte: Folha de S.Paulo http://www.ahseb.com.br/compos.php?m=site.item&item=3302&idioma=br