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domingo, janeiro 09, 2011

Mulher morre sete dias após realizar lipoescultura em Goiânia

TODO CUIDADO É POUCO. Será que é necessária mesma a cirurgia? Pense sempre dez vezes antes de decidir. Falta de ética de médicos os transformam em caça-níqueis que aceitam tudo. Ministério Público ordena necrópsia no corpo de assessora do ministro das Cidades que perdeu a vida sete dias após fazer lipoescultura em Goiânia. Família não relaciona o fato à operação
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e a 23ª Delegacia de Polícia (P Sul) investigam a morte de Kelma Macedo Ferreira Gomes, 33 anos, que era assessora do ministro das Cidades, Márcio Fortes. Ela estava internada desde terça-feira no Hospital São Francisco, em Ceilândia, e morreu por volta do meio-dia de ontem. Segundo pessoas próximas à família dela, a causa teria sido uma pneumonia. Sete dias antes, Kelma havia passado por uma lipoescultura no Hospital Goiânia Leste, no Setor Universitário da capital goiana. Familiares negam qualquer relação entre a operação e a morte da assessora. O promotor de Defesa dos Usuários dos Serviços de Saúde (Pró-Vida), Diaulas Ribeiro, encaminhou o corpo de Kelma ao Instituto de Medicina Legal (IML) para necrópsia.

Kelma acompanhava o ministro Márcio Fortes havia oito anos. Segundo a amiga Adriana Cavalcante, 35 anos, que também trabalha no ministério, a assessora não tinha problemas de saúde. “Trabalho com ela há quatro anos. Ela estava sempre saudável, feliz e de bem com a vida. Eu a considerava como uma irmã”, disse, emocionada, no Hospital São Francisco.

Ainda de acordo com Adriana, Kelma começou a procurar este ano um lugar para realizar a cirurgia plástica nos braços, nas pernas, nas costas, na barriga, além de colocar implantes de silicone. Ela escolheu o hospital de Goiânia, que teria cobrado R$ 9 mil pelo procedimento. Em Brasília, a operação custava cerca de R$ 11 mil. Com a cirurgia marcada para o último dia 26, Kelma teve de retornar mais cedo do Rio de Janeiro, onde acompanhou o ministro Márcio Fortes no Fórum Urbano Mundial. A assessora chegou a Brasília dois dias antes da operação (veja cronologia).

Kelma deu entrada no hospital goiano com o marido, Fredson Silva, por volta das 19h do último dia 25. A cirurgia começou às 6h30 do dia seguinte. Durou 3h. A paciente teria sido liberada pelo médico e voltou a Brasília de carro na manhã de sábado, às 8h. Na terça-feira, deu entrada no Hospital São Francisco. O primeiro diagnóstico dos médicos foi embolia pulmonar, que culminou em uma pneumonia, conforme o hospital informou aos parentes e amigos.

Segundo um médico consultado pelo Correio, a maioria dos pacientes recebe alta 24h após a operação. Mas cabe ao cirurgião e à pessoa operada o “bom senso” e cuidados no pós-operatório. O atestado médico para quem se submete a uma lipoescultura é de 15 a 30 dias. O médico que operou Kelma, em Goiânia, trabalha numa clínica particular no Guará.


Sepultamento


O enterro do corpo da assessora estava marcado para hoje, no Cemitério de Taguatinga. Seria organizado pelo Cerimonial do Ministério das Cidades. “O ministro está muito triste com a notícia e pediu para que eu cuidasse de todos os procedimentos para enterrá-la”, disse a chefe do Cerimonial, Marlene Souza, 50 anos. Mas o sepultamento depende, agora, do IML.

Por volta das 18h40 de ontem, o Hospital São Francisco liberou o corpo de Kelma para uma funerária em Ceilândia. Mas, em vez da Capela 3 do Cemitério de Taguatinga, ele seguiu no rabecão para o IML. O delegado de plantão da 23ª DP, André Luiz Fonseca, estava no local acompanhado de agentes e impediu o transporte do corpo direto para o cemitério. “Estamos cumprindo uma determinação do Ministério Público”, explicou Fonseca.

Assim que os familiares de Kelma souberam que o corpo teria de seguir para o IML ficaram revoltados. Eles ligaram para promotor Diaulas e alegaram que o sofrimento seria estendido dessa forma. Mas não adiantou. “Se tem morte associada a qualquer tipo de cirurgia, temos que apurar. Por isso, o corpo deve seguir para o IML. Não podemos correr o risco de deixar a história passar e, depois, descobrir um erro na mesa de cirurgia”, explicou Diaulas Ribeiro. A partir do resultado da perícia, o MP decidirá se a investigação segue em Brasília ou Goiânia. O laudo da necrópsia deve ficar pronto em 15 dias.

Os familiares de Kelma estavam reunidos na casa da assessora, no Setor O, ontem à noite, quando a reportagem chegou. Eles não quiseram comentar o assunto. Por meio de amigos, disseram não acreditar que a morte de Kelma tenha relação com a lipoescultura realizada pela assessora. Nenhum representante dos hospitais São Francisco e Goiânia Leste foi encontrado ontem para comentar a morte de Kelma.


Pulmão


A embolia pulmonar pode ocorrer principalmente com as pessoas que fumam, que têm varizes nas pernas ou então ficam muito tempo sentadas. O primeiro sintoma é a falta de ar.


Popular


A lipoescultura ocorre quando o médico retira gordura de uma parte do corpo da paciente para definir outra região. A expressão, no entanto, tornou-se tão popular nos últimos anos que hoje se refere ao ato de contornar o corpo de uma pessoa com cirurgias plásticas.


Colaborou Guilherme Goulart


Memória

Vaidade mortal


Junho de 2003

O ex-médico Denísio Marcelo Caron foi acusado pela morte de cinco mulheres em decorrência de cirurgias plásticas. Há entre as vítimas pacientes do Distrito Federal. Descobriu-se que ele usava um diploma falso de especialização emoperações estéticas. Em maio do mesmo ano, o Tribunal de Justiça do DF decidiu levar Caron a júri popular sob acusação de homicídio doloso (por assumir o risco de matar). Em julho de 2009, a Justiça de Brasília o condenou a 30 anos de prisão. Caron recorre da sentença em liberdade.


Abril de 2005

A funcionária do Banco do Brasil Patrícia Regina de Freitas Cavaliére, 46 anos, perdeu a vida durante cirurgia plástica realizada pelo médico Silvio Ferreira em uma clínica na 606 Sul. A intenção dela era fazer pequenos reparos na barriga, mas saiu da consulta convencida a encarar procedimentos para retirada de gordura e redução do culote. O médico não tinha licença da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica para exercer a função.


Dezembro de 2008

A polícia de Palmeiras de Goiás prendeu o médico Pastor Contreras Zambrana, 54 anos, como suspeito de matar pelo menos duas pacientes e deformar outras cinco durante cirurgias de lipoaspiração. Ele também é investigado pela morte da brasiliense Jussara Maria Ferreira, 45, em 1º de setembro. Ela perdeu a vida após receber anestesia aplicada pelo médico. O Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) suspendeu provisoriamente o direito de Zambrana de exercer a profissão.


Janeiro de 2010

O cirurgião plástico Haeckel Cabral Moraes acabou indiciado pela morte da jornalista Lanusse Martins Barbosa, 27 anos. A jovem perdeu a vida durante lipoaspiração realizada em 25 de janeiro na sala de cirurgia do Hospital Pacini (715/915 Sul). Investigação policial concluiu que houve erro médico. Autópsia revelou que houve a perfuração da veia renal direita de Lanusse durante a lipo. Com isso, ela teve hemorragia interna e diversas paradas cardiorrespiratórias.


Perfil


Kelma Macedo Ferreira Gomes, 33 anos

Trabalhou como assessora do ministro das Cidades, Márcio Fortes, durante oito anos.Casada, ela deixou dois filhos: uma menina de 8 anos e um garoto de três.A família mora numa casa humilde no Setor O de Ceilândia.Os amigos lembram dela como uma profissional talentosa e dedicada.Na semana passada, esteve com o ministro no Fórum Urbano Mundial, que ocorreu no Rio de Janeiro. Ela voltou a Brasília mais cedo, no último dia 24, para se submeter a uma cirurgia de lipoescultura em Goiânia.


Cronologia


Quinta-feira, 25 de março

Kelma chega ao Hospital Leste, que fica no Setor Universitário de Goiânia, acompanhada do marido, Fredson Silva, e é internada por volta das 19h.


Sexta-feira, 26

Começa o procedimento cirúrgico na assessora do ministro Márcio Fortes, por volta das 6h30. Ela foi submetida a três cirurgias: plástica na barriga, lipoaspiração nos braços, pernas, nas costas e cirurgia para colocação de siliconenos seios.


Sábado, 27

Depois da lipoescultura, que durou três horas, Kelma ficou internada até as 8h de sábado, quando teve alta e retornou de carro para Brasília com o marido.Domingo, 28Já em casa, Kelma começou a passar mal. Ela reclamou de falta de ar. O sintoma teria se agravado até terça-feira, quando ela deu entrada no Hospital São Francisco, da rede particular, que fica na Guariroba.


Ontem, 2 de abril

Depois de quatro dias internada no hospital, Kelma não resistiu e morreu ao meio-dia. Num primeiro boletim divulgado aos parentes, os médicos diagnosticaram um quadro de embolia pulmonar.Mas o segundo exame apontou pneumonia. A causa da morte de Kelma será conhecida com o resultado da necrópsia feita pelo IML.