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sábado, janeiro 01, 2011

Clínica no Rio é condenada por falha ao tratar hepatite

Uma das maiores e mais conceituadas clínicas oncológicas do Rio de Janeiro, a Oncologistas Associados, foi condenada pela 23.ª Vara Cível a pagar R$ 40 mil de indenização por danos morais à chef Elen Casagrande por falhas no tratamento com o medicamento Interferon Peguilado, indicado para o tratamento de hepatite C. Cada ampola do medicamento custa em média R$ 1,7 mil. A suspeita é que a paciente não tenha recebido as doses do remédio, mas teve outro produto injetado. A clínica e a empresária recorreram da decisão.
Elen começou a fazer o tratamento - que prevê a aplicação de uma dose semanal do remédio, durante 48 semanas - em julho de 2003. Um exame de sangue na 8.ª semana mostrou que já não havia o vírus presente no organismo dela. O remédio, que é tóxico para a medula, também havia reduzido plaquetas e leucócitos.
Na 12.ª semana, no entanto, o procedimento mudou - outra funcionária aplicou o remédio, desta vez nas costas, e Elen não sentiu dor no momento da injeção. Os efeitos colaterais também foram inexistentes. "Após tomar a injeção, eu tinha febre, dores no corpo. A sensação é de que eu tinha uma gripe muito forte. Daquela vez nada disso aconteceu e na semana seguinte também", conta.
Elen comunicou a desconfiança ao médico que a acompanhava, que pediu novos exames. A carga viral havia reaparecido. E as taxas do sangue tinham se recuperado, o que não ocorre durante o tratamento com o Interferon Peguilado. "O exame atestava a omissão das doses. Os médicos não sabiam o que fazer comigo, porque não havia parâmetro para a interrupção involuntária do tratamento", conta a chef.
Uma equipe de biomatemáticos da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) passou a estudar o caso de Elen, que passou a fazer exames todas as semanas para acompanhar as taxas. Eles estabeleceram que ela deveria retomar o tratamento do início. Ao todo, a chef tomou 68 doses do medicamento. "É um tratamento doloroso, em que você perde os cabelos, fica debilitada. E podiam ter retirado de mim a minha única chance de cura. O meu caso serve de alerta a todos os pacientes: fiquem atentos ao seu tratamento. As pessoas devem exigir que as normas sejam cumpridas e o medicamento aberto na frente delas", afirmou.
Elen decidiu processar a clínica depois de terminado o tratamento. "Chegaram a alegar que eu não respondia ao remédio. Eu tive de ficar boa para provar que não era isso". Na sua decisão, o juiz André Fernandes Arruda escreveu que a responsabilidade da "correta aplicação do medicamento" cabe à clínica. "A existência de erro no procedimento adotado na autora (Elen) não torna a ré um estabelecimento desprovido de confiança ou de bons profissionais, mas apenas evidencia a incessante necessidade de melhoria dos serviços", escreveu.
Procurado pela reportagem, o diretor-executivo da clínica Paulo Siqueira informou que só poderia falar sobre o caso na quarta-feira. "Só posso dizer que não houve comprovação de omissão da dose", afirmou.
A hepatite C é causada por um vírus - o vírus C -, que ataca o fígado de forma lenta e silenciosa. A doença é transmitida pelo contato com sangue contaminado. Na Região Sudeste, 70% das pessoas contaminadas têm o vírus com o genótipo tipo 1. Nesse caso, o tratamento indicado é com o medicamento interferon peguilado - uma dose semanal, durante 48 semanas.
"De cada 10 pessoas tratadas, 4 ou 5 conseguem se curar. Estatisticamente, o tratamento é eficaz em 43% dos pacientes", afirmou o médico Jorge Segadas, subchefe do Serviço de Patologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "É preciso ter cuidado com o tema porque, no caso de o paciente não se curar, não quer dizer que não tenha recebido o medicamento adequadamente", ressaltou.