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domingo, outubro 10, 2010

Postos de saúde não atendem aos pacientes com dengue

O marceneiro Severino Carneiro de Souza, 50 anos, morador do bairro de Potengi, com sintomas de dengue, procurou a Unidade Básica de Saúde da Redinha e disseram-lhe que não o atenderiam. Decidiu ir para o Hospital Giselda Trigueiro, com esperança de ser atendido. Maria Elionara Sales do Nascimento, 28 anos, que mora na Vila Paraíso, Zona Norte de Natal, tentou marcar consulta pelo tele-atendimento e disseram-lhe que não havia ficha. Insistiu, procurou o posto de saúde e não souberam informar como proceder. O motoqueiro Ivanildo Felipe, 35 anos, decidiu ir direto para o Giselda, pois sabe que os postos encaminham os suspeitos de dengue para o local.
No Hospital Maria Alice Fernandes, A jovem Josefa Rizete, 18 anos, do município de Campo Redondo, estava com seus dois irmãos internados na enfermaria, enquanto sua mãe foi procurar atendimento no Hospital Santa Catarina, também com suspeita de dengue. Valtércia Barbosa de Lima, de 21 anos, do município de Jandaíra veio à Natal com o filho doente, pois no posto da cidade não informaram nada sobre a doença do menino.
Esses são apenas alguns dos muitos casos que se repetem todos os dias nos Hospitais Giselda Trigueiro, localizado no bairro das Quintas, e Maria Alice Fernandes, que fica na Zona Norte. Esses fatos constatam a ineficiência da rede básica de saúde em atender os casos de dengue no estado. Essa situação leva os dois hospitais a estarem sempre lotados e realizarem com dificuldade seus atendimentos.
Severino Carneiro de Souza começou a sentir dores no corpo, na cabeça e febre alta no dia 10 deste mês, num sábado. O marceneiro conta que não há um posto de saúde próximo de onde mora, no bairro de Potengi, e por isso procurou a Unidade Básica da Redinha. No posto, disseram-lhe que alí não atendiam o pessoal do bairro onde mora. Na manhã da terça-feira, 13 de maio, Severino estava na fila de atendimento do Hospital Giselda Trigueiro, no bairro das Quintas. Mesmo esperando na fila por cerca de duas horas, Severino afirma que o atendimento no local é melhor.
A jovem Josefa Rizete teve de vir do município de Campo Redondo, no Seridó, para cuidar de seus dois irmãos menores, Silvania Maria, de 9 anos, e Vasco Neto, de 8 anos. Sua mãe, Maria Paulina, de 48 anos, que veio no fim de semana passado com as crianças à Natal, teve de ir na quinta-feira ao Hospital Santa Catarina, pois também estava doente. As crianças estavam doentes desde o domingo. A menina teve, além da febre alta, sangramento pelo nariz. Ambos foram internados na enfermaria do Hospital Maria Alice Fernandaes, Zona Norte de Natal, e estavam tomando soro fisiológico. Josefa contou que os médicos não lhe disseram por quanto tempo mais seus irmãos permaneceriam internados.
A mãe da Gisley Eduarda, de 6 anos, Maria Elinora Sales do Nascimento, passou 15 dias de muita preocupação por causa da filha doente. No começo deste mês, a menina teve febre por três dias e também estava com a barriga inchada. A criança não conseguia se alimentar direito. Elinora tentou marcar uma consulta pelo tele-atendimento no posto de saúde mais próximo de onde mora, na Vila Paraíso, mas diziam-lhe que as fichas para atendimento tinham acabado.
Angustiada com a situação da filha, decidiu procurar uma clínica particular. A criança foi submetida a exames de sangue e ultra-som. O médico que a atendeu teve de viajar, e orientou a dona-de-casa para procurar logo um atendimento médico, mesmo antes de receber o resultado dos exames. Na segunda-feira, dia 12, ela levou a criança para o Hospital Maria Alice Fernandes.
Maria Elinora disse que chegou com sua filha ao hospital às 10h30 da manhã e só foi atendida por volta de 4h da tarde. ‘‘Ficamos na ala de observação até a noite da quarta-feira, quando nos transferiram para a enfermaria. Aqui é bem melhor. Ela (a criança) diz que gostou da cama’’, revela a dona-de-casa, que acrescentou não ter falado nada ao marido, que é pescador, pois ele estava embarcado. Ela tem medo que o esposo fique preocupado com a filha e acabe causando algum acidente de trabalho. Ainda na quinta-feira, dia 15, a criança recebia soro fisiológico e tinha sua pressão sanguínea frequentemente monitorada.
A dona-de-casa Valtércia Barbosa de Lima também estava com o filho Paulo Erik internado com dengue na enfermaria do Maria Alice, na quinta-feira. Ela mora no município de Jandaíra. Procurou atendimento no posto de saúde da cidade e não lhe disseram nada sobre a doença da criança. ‘‘Deram soro e mandaram volta para casa’’, conta Valtércia. Como a situação não melhorou, procurou o hospital de João Câmara. Daí encaminharam os dois para o Maria Alice.
Valtércia revela que ficou o final de semana passado inteiro no pronto-socorro do hospital, aguardando que o filho fosse levado para a enfermaria. Somente na terça é que o levaram para a ala. Paulo Erik estava com dengue hemorrágica, por isso esperava que a taxa de plaquetas no sangue subissem. A princípio o menino apresentava febre alta e inchaço pelo corpo. Ivanildo Felipe também era um dos que aguardavam na fila de atendimento do Giselda na terça-feira. Os sintomas da doença começaram a surgir naquela madrugada. Ivanildo teve febre, olhos ardendo e dores pelo corpo. O motoqueiro, que mora no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, decidiu ir ao Hospital Giselda Trigueiro logo que amanheceu, pois, segundo ele, sabia que os postos dos bairros encaminham os suspeitos de dengue para o local. Ele entrou na fila de atendimento do ambulatório às nove da manhã, e faltando 5 minutos para as onze, ainda não tinha sido atendido. ‘‘Ainda faltam sete na minha frente’’, conta Ivanildo, visivelmente enfraquecido pela enfermidade.

Paulo de Sousa ESPECIAL PARA O POTI