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quinta-feira, outubro 21, 2010

Samu demora 9 horas para atender a chamado

O que poderia ter sido uma grande ajuda para a estudante de Filosofia Jandira Fontenele, 28, mostrou-se um problema devido à falta de estrutura e ao atendimento inadequado. Por duas vezes na semana passada, ela precisou do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) por conta de um surto psicótico de seu marido. Porém, o primeiro chamado, feito por ela à meia-noite, só foi atendido às 9h30 do dia seguinte. No segundo, a ambulância sequer chegou à residência.

De acordo com Jandira, no último dia 7, o esposo, que preferiu não identificar, passou a apresentar comportamento agressivo e a quebrar objetos dentro de casa. Por conta disso, ela saiu para a calçada e começou a ligar para o Samu desesperadamente. Porém, ao fazer as ligações, Jandira foi informada de que só há, na Capital, uma ambulância para atendimentos psiquiátricos. Nesse caso, não há lista de espera, sendo necessário ligar para o serviço municipal a cada uma hora ou 30 minutos para tentar ser atendida.


Desrespeito


Conforme Jandira, o problema foi que o tempo passava e o socorro não chegava. Além disso, alguns atendentes, por não se mostrarem preparados, atenderam-na mal e de forma desrespeitosa. Tanto que, como lembrou, um deles, após várias tentativas, chegou a dizer em tom de brincadeira: "A senhora está com azar mesmo". "Passamos a madrugada inteira ligando, até meus vizinhos também, mas diziam que a ambulância estava em atendimento, que só os familiares podiam solicitar o socorro e ainda riram da minha cara. Temia pela minha vida e a dele", desabafou a estudante.


A assistência médica, portanto, só apareceu no bairro na manhã de sábado, 8. Quando, então, o esposo de Jandira foi levado ao hospital, onde ficou em observação até segunda-feira. Segundo Jandira, a médica que o atendeu receitou uma medicação, que deveria ser tomada a partir daquele dia.


Novo surto


O problema, no entanto, é que, na terça-feira seguinte, dia 11, o marido voltou a ficar agressivo, em meio a um novo surto, também pelo fato de ela não ter conseguido medicá-lo. Dessa vez, o atendimento do Samu foi ainda pior. O pedido que iniciou às 11h30 e continuou até as 22 horas não adiantou. Até ontem, dia 19, a ambulância não havia chegado à residência de Jandira. "Ele não se droga, não bebe. Vou formalizar uma queixa na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa".


Segundo Messias Simões, diretor geral do Samu Fortaleza, o fato de Jandira ter sido mal atendida pelos telefonistas será verificado por meio de gravações, podendo, se for necessário, gerar um procedimento administrativo contra o funcionário. "Vamos verificar a questão do destrato no atendimento, porque isso é inaceitável", prometeu o diretor. Já em relação à quantidade de ambulâncias, Simões informou que a disponibilidade de veículos, no geral, está dentro da base populacional, estipulada pelo Ministério da Saúde.


Ao todo, como disse, são 18 de suporte básico (com técnicos de enfermagem) e quatro de suporte avançado (com enfermeiros e médicos). "O Ministério da Saúde estabelece que podemos funcionar com 18. Só que temos 22", destacou. Quanto ao atendimento psiquiátrico, o diretor do Samu explicou que a divisão é feita conforme a incidência das ocorrências dos seis tipos que são atendidos: clínico, pediátrico, causas externas, gineco-obstetra, cirúrgico e psiquiátrico. A demanda psiquiátrica, por exemplo, corresponde a 0,7% do geral.



AMPLIAÇÃO DO SERVIÇO

Ambulâncias esperam para ser retiradas há quase dois meses


Desde o último dia 25 de março, sete ambulâncias estão à disposição do Estado do Ceará para a ampliação do atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No entanto, os veículos encontram-se estacionados na cidade de Tatuí, interior de São Paulo.

Um total de 650 ambulâncias foi entregue de forma simbólica pelo Ministério da Saúde (MS) a 573 cidades, entre elas sete cearenses. Cabe ao Governo do Estado retirar os veículos em São Paulo e trazê-los para o Ceará, conforme a assessoria de comunicação do MS.

No entanto, os veículos só deverão chegar ao Estado no próximo mês, quando está previsto o término da licitação para contratar a empresa que transportará as ambulâncias, segundo informa a assessoria de comunicação da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).

Enquanto isso, até 607 mil pessoas podem estar sendo prejudicadas com a falta de assistência especializada do Samu. Esse é o total de habitantes de 16 municípios que serão abrangidos pelo Samu Metropolitano Leste, que aguarda apenas o recebimento de ambulâncias para ser implantado.


A mesma dependência afeta 581 mil habitantes das 11 cidades que receberão assistência do Samu Metropolitano Oeste. Essas duas unidades, juntamente com o já operante Samu Litoral Leste, formarão o Polo 1 do Samu no Ceará, cuja Central de Regulação fica localizada na cidade do Eusébio.


Segundo o diretor-geral do Samu Litoral Leste, Francisco Simão, para implantar as duas novas unidades do Samu simultaneamente, o Estado precisa de 27 ambulâncias. Além das sete disponíveis, outras 20 devem ser liberadas pelo MS até o fim deste mês, conforme a assessoria de comunicação do MS.


As sete ambulâncias disponíveis desde março seriam endereçadas às cidades de Baturité, Caucaia, General Sampaio, Itapiúna, Maranguape, Pentecoste e São Gonçalo do Amarante. Entretanto, conforme Simão, a posse dos veículos é "simbólica", pois as ambulâncias servem a todo o grupo de municípios incluídos no subpolo.


Caso as ambulâncias já estivessem no Estado, Simão admite que seria preciso entrar em contato com as prefeituras municipais para decidir qual das unidades - Metropolitano Leste ou Oeste - começaria a funcionar primeiro e se isso iria, de fato, acontecer, visto que o número de carros seria menor do que o necessário.


SEM ASSISTÊNCIA

Transporte é realizado de maneira precária


Sem a assistência do Samu, a maioria das cidades oferece um precário transporte de pacientes em caráter de urgência. "O serviço funciona com ambulâncias dos próprios municípios. São sujas, às vezes só tem um colchão, não têm estrutura para transportar pessoas", lamenta o diretor-geral do Samu Litoral Leste, Francisco Simão.


Conforme o diretor, muitos pacientes já chegam mortos ao serem transportadas para a Capital. "As pessoas são transportadas sem o cuidado devido. Isso pode determinar uma situação de óbito, se não tiver cuidados necessários", afirma.


No Ceará, o Samu abrange 16 municípios, atualmente: Fortaleza, Sobral e os 14 da unidade Litoral Leste. Implantado há cerca de dois anos, o subpolo já realizou mais de dois mil procedimentos. "A maioria desses casos não teriam sido atendidos se não fosse o Samu. Quanta gente não teria sofrido muito mais dor, muito mais sequelas?", questiona Simão.


O diretor explica que a meta do Ministério da Saúde é universalizar o Samu no Brasil. No Ceará, são necessárias cerca de 100 ambulâncias, para criar os polos do Cariri, Sertão Central e Zona Norte, além do Polo 1.


JANINE MAIA E ÍCARO JOATHAN

REPÓRTERES

Foto:POR DIA, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência recebe, em média, 2.500 ligações, segundo a direção. Por conta dessa realidade, os casos mais graves são priorizadosRODRIGO CARVALHO