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sábado, dezembro 04, 2010

Falta de conversa (entre os médicos) eleva o número de mortes em UTI


Comunicação falha entre médicos causa atrasos fatais em procedimentos

Estudo com 792 doentes mostrou que taxa de mortalidade cai quando equipes fazem mais troca de informações
A falta de comunicação entre médicos de UTI pode aumentar a taxa de mortalidade, revela um estudo feito por grupo ligado ao Hospital Moinhos de Vento e à Universidade Federal de Ciências da Saúde, de Porto Alegre.
De tão grave, o problema é uma das prioridades da campanha lançada esta semana pela Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) com o objetivo de aumentar a segurança nas unidades de terapia intensiva.
"Certamente, a falta de comunicação é a primeira causa de eventos adversos em UTIs", diz Álvaro Réa-Neto, coordenador da campanha da entidade, que prevê reuniões em várias capitais. Um dos itens da cartilha é dedicado a essa questão.
O ambiente lotado de pacientes críticos, a correria dos profissionais e a falta de rotinas estabelecidas para disseminar as informações criam um terreno fértil para a comunicação truncada.

FALTA REUNIÃO

Entre os problemas mais citados estão a falta de encontros entre todos os profissionais envolvidos, os atrasos em procedimentos como o início de uma terapia com antibióticos, a retirada da ventilação mecânica e técnicas de prevenção da trombose venosa profunda.
Os especialistas notam também diferentes percepções do que é importante relatar, dificuldades que os membros mais jovens têm de questionar os mais velhos e visões diferentes de condutas dentro da equipe.
"Um dos grandes problemas é a comunicação entre diferentes profissionais. Nem sempre o que um transmite é o mesmo que é ouvido pelo outro", diz o médico especialista em medicina intensiva Cassiano Teixeira, um dos líderes do trabalho.
"A rotina ideal é aquela em que todos os participantes do caso conseguem se reunir em algum momento do dia para discutir o caso." Mas isso nem sempre acontece.
Para chegar ao resultado, os pesquisadores gaúchos acompanharam 792 pacientes durante um ano e meio. Eles foram divididos em três grupos, conforme a frequência de comunicação entre os médicos-assistentes -que comandam o caso, mas não ficam o tempo todo na UTI- e os médicos rotineiros da unidade, responsáveis pelas complicações agudas.
A taxa de mortalidade foi de 26% no grupo que se comunicava raramente -que incluiu quase 10% dos pacientes. Naqueles em que as conversas eram quase diárias, a taxa ficou em 13%.
"O importante não é achar culpados, mas encontrar processos que levam a repetições de erros. Se não cuidar do processo, não adianta trocar pessoas", diz Réa-Neto.
"É uma questão de hábito, de boa vontade, mas muitas equipes ainda não desenvolveram esse hábito", observa Maria Ângela Gonçalves Paschoal, enfermeira-chefe da UTI do Hospital Santa Isabel e da Santa Casa de São Paulo.
Unidades com dez leitos têm, em média, dois médicos e dois enfermeiros por turno, e oito técnicos de enfermagem e dois fisioterapeutas.
Também circulam por ali médicos de outras especialidades, fonoaudiólogos, psicólogos e nutricionistas. Todos se revezam em turnos de quatro ou seis horas e plantões noturnos de doze horas.